Seu olhar está sem o brilho que sempre teve. Não ri mais de minhas piadas ou das brincadeiras. Vive no quarto, isolada do mundo e sai somente quando é obrigada. Em outros tempos era a primeira a pegar suas coisas e sair porta afora com aquele jeito moleque de sempre e o sorriso no rosto.
Cadê minha menina? Eu quero ela de volta. Me sinto culpada pelo que aconteceu mas eu também fui enganada. Eu confiei. Acreditei na promessa e deixei tudo acontecer pensando estar fazendo o melhor.
Ela amava seus cachos. Exibia-os como se tivesse conquistado um prêmio e fazia questão de mostrar para todo mundo. Sabia cuidar como ninguém e sempre foi conhecida por ser uma menina empoderada com seus cachos volumosos. Isso teve um fim quando a levei ao salão que costumo frequentar e deixei-a nas mãos de quem se dizia entendedor de todos os tipos de cabelo.
“Vamos deixá-la maravilhosa”— foram as últimas palavras antes de levarem-na longe de meus olhos enquanto eu aproveitava o tempo fazendo as unhas.
Uma hora se passou e lá vem minha menina, com os olhos encharcados e semblante sério, fechado e triste. Olho para seu cabelo e me pergunto: Onde estão os cachos? O que foi feito?
“Tá lindona mas ainda não se acostumou” — exclama quase que se desculpando e para não ficar por baixo avisa: “É só lavar que voltam todos os cachinhos”.
Ufa, quem bom que tudo pode voltar ao normal – Pensei imediatamente mas sem esconder meu constrangimento por ver um serviço muito distante do que imaginávamos.
O silêncio na volta para casa disse tudo. Minha menina havia odiado o que foi feito. Sentiu-se desrespeitada, invadida, enganada e eu fazia parte dessa história. Fui cúmplice? Talvez. Fui corresponsável? Com certeza.
Ao chegar em casa, vejo-a correndo ao banheiro e escuto o abrir do chuveiro. Nada que eu dissesse iria fazer o tempo voltar atrás e minha esperança era de que ao final do banho ela voltasse a ser minha cacheadinha querida.
Os minutos se passaram e agora o som do secador ao fundo mostra que seu ritual de secagem havia começado. Me sinto mais à vontade para me aproximar da porta e perguntar se está tudo bem. Ao encher meus pulmões para lhe questionar, ouço um berro de raiva e em seguida seu choro. Pensei que houvera se machucado:
— Abra a porta, querida. O que houve? Abra! – grito pressionando a maçaneta na tentativa de abrir.
Felizmente a porta se abre e nesse momento a realidade vem à tona. A visão que tive foi uma das mais tristes no entanto eu não podia deixar transparecer o que estava sentindo pois minha pequena precisava de alguém forte ao lado dela.
Seus cachinhos foram alisados. Seu cabelo foi completamente alterado pela atitude irresponsável do “especialista”. Sinto raiva e vergonha ao mesmo tempo. E agora o que fazer? Quantas meninas além da minha passam por essa situação? E quantas mães vivenciaram ou vivenciarão o que estou passando nesse momento?
Abraço minha pequena e prometo achar uma solução. Mesmo que ainda em dúvida se haverá uma saída ou se somente o tempo é que trará minha cacheadinha de volta. Por agora, ficam as lembranças de sua felicidade registrada no porta-retrato.
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A ficção desta história reflete muitas realidades relatadas por pessoas que procuram o Studio dos Cachos. Mãe e pais que chegam até nós falando de situações que vivenciaram em salões não especializados ou até nos que se dizem especializados.
É importante questionar as promessas milagrosas ou os produtos ou procedimentos que danificam os cachos. Lembre-se que sua beleza não é algo para agora e sim para o sempre. Nosso conceito de cuidados é na busca da saúde e beleza de seus cachos no seu dia a dia e não apenas no dia que vai ao salão.
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